Eu estava lendo os textos do Gregorio Duvivier no site da Folha de S.Paulo, e achei um com o título de Se eu morresse..., e eu curti, como curto todos os textos dele, porém resolvi reescrever o texto, com a minha versão.
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Se eu atravessasse a rua agora, eu morria atropelado por aquele
carro preto. Era bom que eu não precisava entregar os trabalhos da semana. Mas
ia ser um drama fodido.
O dono do carro preto ia ficar
bem puto. Depois ia ficar bem mal. Depois ia ficar bem puto, de novo, porque
ele tava dirigindo certo, eu que me joguei na frente, achei que ia dar tempo. E
o carro preto ia ficar bem estraçalhado. Dei uma engordada que ia ser fatal pro
carro preto. O dono do carro preto ia sair me xingando, só depois ia perceber
que eu já morri.
Aí ele ia ficar mal de novo. As
pessoas iam ficar putas com ele, porque ninguém fica puto com quem já morreu.
Mas eu tava dirigindo certo, ele ia dizer. Talvez alguém me reconhecesse: esse
guria faz umas fotos legais e posta na internet. Talvez virasse uma comoção.
Alguns amigos iriam publicar uma homenagem no
facebook, as minhas amigas talvez fizessem uma camiseta com a minha melhor foto
e uma mensagem bonita e emocionante (se bem que eu prefiro canecas).
Talvez eu virasse nome de rua. A rua em que eu morri. As pessoas
iam achar suspeito. Iam pensar: essa daí se jogou na frente do carro só pra
virar nome de rua.
Ou, talvez, no máximo, uma plaquinha: aqui morreu Rochele Alves,
que fotografava, escrevia uns textos legais, e cozinhava bem, tinha um sorriso
bonito, que poucos notavam.
Não. Melhor não atravessar, não. Por enquanto, morrer não tá
valendo muito a pena pra mim. Nota mental: fazer alguma coisa que preste. Puta
que o pariu, tenho que entregar os trabalhos da semana.