-Rochele Alves

terça-feira, 6 de julho de 2010


Pense e reflita;

·         - Padre – disse Chartrand -, posso lhe fazer uma pergunta esquisita?
O camerlengo sorriu.
- Só se eu puder lhe dar uma resposta esquisita.
Chartrand achou graça.
- Já perguntei isto a todos os padres que conheço e continuo não entendendo.
- O que é que você não entende?
               O camerlengo ia na frente em passos rápidos, o pé levantando a ponta da batina quando ele andava. Os sapatos eram pretos, de sola crepe, e combinavam com ele, pensou Chartrand, como se refletissem a essência do homem: moderno mas modesto e mostrando sinais de desgaste.
Chartrand respirou fundo.
- Não entendo o que vem a ser uma onipotência benevolente.
O camerlengo sorriu.
- Você anda lendo a Sagrada Escritura?
- Eu tento.
- E esta confuso porque a Bíblia define Deus como uma divindade onipotente e benevolente.
- Exato.
- Onipotente e benevolente significa apenas que Deus é todo-poderoso e bem-intencionado.
- Compreendo o conceito. É que parece uma contradição aí.
- Sim. A contradição é a dor. A fome, as guerras, as doenças.
- Exatamente! – Chartrand sabia que o camerlengo compreenderia – Coisas terríveis acontecem neste mundo. A tragédia humana é como uma prova  de que Deus não pode ser simultaneamente todo-poderoso e bem-intencionado. Se Ele nos ama e tem o poder de mudar nossa situação, Ele deveria também evitar nossas dores, não é?
- Deveria mesmo? – perguntou camerlengo.
               Chartrand ficou embaraçado. Teria passado dos limites? Será que se tratava de uma daquelas perguntas religiosas que se devia fazer?
- Bem, se Deus nos ama, se é capaz de nos proteger. Ele deveria, sim. Parece que Ele é onipotente e indiferente ou, ao contrário, benevolente e incapaz de nos ajudar.
- Tem filhos , tenente?
-Não, signore.
- Imagine se tivesse um filho de oito anos. Você o amaria?
- Claro.
- E faria tudo o que pudesse para evitar que ele sofresse na vida?
- Claro que sim.
- E deixaria que ele andasse de skate?
               Chartrand estacou, admirado. O camerlengo parecia singularmente “por dentro” para um sacerdote.
- Sim, acho que sim – disse Chartrand – Com certeza deixaria que ele andasse de skate, mas diria a ele para ter cuidado.
- Quer dizer que, como pai desse menino, você lhe daria uns bons conselhos básicos e deixaria que saísse e cometesse seus próprios erros?
- Eu não correria atrás dele para mimá-lo, se é o que o senhor quer dizer.
- E se ele caísse e ralasse o joelho?
- Ele aprenderia a ser mais cuidadoso.
O camerlengo sorriu de novo.
- Então, quer dizer que, mesmo tendo o poder de interferir e evitar que seu filho sentisse dor, você optaria por demostrar seu amor deixando-o aprender suas próprias lições?
- Claro, a dor é parte do crescimento. É como aprendemos.
O camerlengo sacudiu a cabeça.
- Exatamente.

Trecho do livro: Anjos e Demônios de Dan Bronw
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3 comentários:

Emilene Lopes disse...

Olá linda!
sou eu mesma que escrevo, rs...eu e meus devaneios.
Adoro escrever.
Depois volto com mais calma pra passear por aqui.
Bjs
Mila lOpes

ERICO BRATFISH disse...

É verdade!
E mais, Deus está onde o deixam entrar...
Tenha um dia abençoado

Wanderley Elian Lima disse...

Excelente e verdadeiro texto. Deus nos protege , mas nos deixa livres para seguir as nossas escolhas, o resto é com a gente.
Bjux

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